quarta-feira, 24 de julho de 2013

Ordem dos termos faz diferença

Por Thaís Nicoleti

(1) Golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis), espécie de águas profundas,    encontrado no norte de ilha Comprida, litoral sul de São Paulo; animal foi removido já morto por biólogos do Projeto Boto-Cinza para análises 
 
 
(2) Parte do corpo tão ligada à sedução e à sexualidade, o formato das mamas sempre esteve submisso à ditadura da moda.
 
 
No texto escrito, é importante observar a ordem dos termos na frase. Se na linguagem falada a entonação cria a ênfase necessária ao entendimento, na linguagem escrita a situação é diferente. É preciso empregar os recursos de ênfase e clareza próprios da escrita.
 
No texto (1), uma legenda de foto, a construção “animal foi removido já morto por biólogos” convida à dupla interpretação. Por mais que o leitor deduza que o animal não foi morto pelos biólogos, o texto permite essa leitura, portanto é defeituoso. 
 
O que produz esse defeito é o fato de a expressão “por biólogos” vir depois de duas formas verbais, podendo estar ligada a qualquer uma delas (“removido por biólogos” ou “morto por biólogos”). A solução para o problema está na mudança de posição ou da expressão “por biólogos” ou de uma das formas verbais.
 
Se optássemos por aproximar “por biólogos” de “removido”, teríamos o seguinte:
 
“animal foi removido por biólogos do Projeto Boto-Cinza já morto para análises”
 
ou algo parecido:
 
“animal foi removido para análises por biólogos do Projeto Boto-Cinza já morto”
 
O problema dessas duas construções é que ambas deixam o complemento mais curto (“já morto”) depois de um elemento muito longo (“removido para análises por biólogos do Projeto Boto-Cinza”), o que não favorece a clareza.
 
O melhor, portanto, seria antecipar a forma verbal “morto”, e modo que ficasse distante do agente da passiva (“por biólogos”). Assim:
 
 
(1) Golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis), espécie que vive em águas profundas, encontrado no norte de Ilha Comprida, litoral sul de São Paulo; já morto, animal foi removido por biólogos do Projeto Boto-Cinza para análises
 
O segundo trecho apresenta um defeito comum: uma expressão de caráter predicativo aparece antes do sujeito ao qual se refere e faz referência não ao núcleo do sujeito, mas ao complemento dele.
 
Observe que a “parte do corpo tão ligada à sedução e à sexualidade” não é o formato das mamas, mas as mamas propriamente ditas. Assim, “mamas” deveria ser o núcleo do sujeito. Veja abaixo: 
 
Parte do corpo tão ligada à sedução e à sexualidade, as mamas sempre tiveram seu formato submisso à ditadura da moda.
 
Do ponto de vista da concordância, o texto acima está correto, pois “as mamas” são uma parte do corpo. Não há, portanto, necessidade de plural (“partes”).

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