quarta-feira, 7 de outubro de 2015

CIVILIZAÇÕES PRÉ-COLOMBIANAS


 

Quando Colombo chegou à América, em 1492, encontrou o continente habitado há muito tempo por várias civilizações e povos. Os povos pré-colombianos apresentavam diferentes estágios de desenvolvimento cultural e material, classificados em: sociedades de coletores/caçadores e sociedades agrárias. Dentro desse segundo grupo, três culturas merecem maior destaque: os maias e os astecas, no México e América Central, e os incas na Cordilheira dos Andes, na América do Sul. Alcançaram notáveis conhecimentos de astronomia e matemática, além de dominar técnicas complexas de construção, metalurgia e cerâmica. Não conheciam a roda e o cavalo, mas desenvolveram técnicas eficientes de agricultura. Enquanto o fim da cultura maia é até hoje um mistério, sabemos que os povos astecas e incas decaíram perante à conquista espanhola.

1) OS MAIAS

 O território maia
A península do Yucatán foi o centro da cultura maia, a mais desenvolvida da América Central. Os diversos grupos étnicos que formaram o povo maia chegaram à América Central em 1500 a.C., vindos do norte, talvez procedentes do nordeste da Ásia, pelo estreito de Bering. A civilização maia estendeu-se até os atuais territórios de Belize, os planaltos da Guatemala e Honduras e parte dos estados mexicanos de Chiapas e Tabasco. Acredita-se que, no fim do século XV e início do XVI, as lutas internas entre as várias cidades maias provocaram sua rápida decadência.
Para lembrar:
Os povos organizados como sociedades de coletores/caçadores eram nômades, praticavam a caça, a pesca e a coleta. A agricultura, quando presente, era rudimentar (principalmente de milho e mandioca); desconheciam a metalurgia e organizavam-se em tribos.
São exemplos dessas sociedades: os tupi-guarani do Brasil, os patagônios da América do Sul e os sioux da América do Norte.
As cidades maias
A civilização maia organizou-se como uma federação de cidades-estado e atingiu seu apogeu no século IV. Nesta época, começou a expansão maia, a partir das cidades de Uaxactún e Tikal. Os maias fundaram Palenque, Piedras Negras e Copán. Entre os séculos X e XII, destacou-se a Liga de Mayapán, formada pela aliança entre as cidades de Chichén Itzá, Uxmal e Mayapán. Esta tripla aliança constituiu um império, que teve sob o seu domínio outras doze cidades. O conjunto da cidade era considerado um templo. Os edifícios eram construídos com grandes blocos de pedra adornados com esculturas e altos-relevos, como os de Uaxactún e Copán.
Para lembrar:
Os templos maias tinham forma de pirâmide, com base retangular. Subia-se até a porta de entrada por escadarias muito íngremes. Junto ao templo, quase sempre havia um campo para o jogo de pelota. As pirâmides, embora semelhantes às do Egito, não serviam de tumbas. Com freqüência, eram utilizadas como observatórios astronômicos.
 3. Os ritos
Só podiam subir aos templos os sacerdotes, que formavam a classe mais culta. Os maias acreditavam descender de um totem e eram politeístas. A influência dos toltecas introduziu certas práticas cerimoniais sangrentas, pouco antes da decadência dos maias. Adoravam a natureza, em particular os animais, as plantas e as pedras. Cuidavam de seus mortos, colocando-os em urnas de cerâmica.
Para lembrar:
A acrópole era o núcleo da cidade e desempenhava funções religiosas e políticas. A praça central tinha forma retangular e era rodeada de templos e palácios de pedra. No início, os palácios tinham o teto plano, sustentado por vigas de madeira. As vigas foram depois substituídas pela chamada "meia-abóbada maia".
O calendário maia e a escrita
Os avançados conhecimentos que os maias possuíam sobre astronomia (eclipses solares e movimentos dos planetas) e matemática lhes permitiram criar um calendário cíclico de notável precisão. Na realidade, são dois calendários sobrepostos: o tzolkin, de 260 dias, e o haab de 365. O haab era dividido em dezoito meses de vinte dias, mais cinco dias livres.  Para datar os acontecimentos utilizavam a "conta curta", de 256 anos, ou então a "conta longa" que principiava no início da era maia. Além disso, determinaram com notável exatidão o ano lunar, a trajetória de Vênus e o ano solar (365,242 dias). Inventaram um sistema de numeração com base 20 e tinham noção do número zero, ao qual atribuíram um símbolo. Os maias utilizavam uma escrita hieroglífica que ainda não foi totalmente decifrada.
A arte
A arte maia expressa-se, sobretudo, na arquitetura e na escultura. Suas monumentais construções — como a torre de Palenque, o observatório astronômico de El Caracol ou os palácios e pirâmides de Chichén Itzá, Palenque, Copán e Quiriguá — eram adornadas com elegantes esculturas, estuques e relevos. Podemos contemplar sua pintura nos grandes murais coloridos dos palácios. Utilizavam várias cores. As cenas tinham motivos religiosos ou históricos. Destacam-se os afrescos de Bonampak e Chichén Itzá. Também realizavam representações teatrais em que participavam homens e mulheres com máscaras, representando animais.

2) OS ASTECAS
O território asteca
A cultura asteca estendia-se pelo vale do México, o litoral do Golfo do México e do Pacífico, a península de Tehuantec e parte da Guatemala. Os astecas são herdeiros da cultura tolteca. Segundo a história, reconstruída a partir dos códices que foram encontrados, sete tribos astecas procedentes do nordeste do México estabeleceram-se em Coatepec e perto do lago Pátzcuaro. No século XII, dirigiram-se até o vale do México. Em sua fuga pelo lago Texcoco, depois de um enfrentamento de tribos, viram, numa ilha, uma águia comendo uma serpente. Foi esse o lugar que escolheram para fundar, em 1325, a sua capital: Tenochtitlán, a atual cidade do México.
A agricultura da América
Se podemos associar a civilização européia ao cultivo do trigo e a oriental ao cultivo de arroz, a civilização americana era vinculada ao cultivo do milho. O milho (ou choclo) constituía o alimento básico da população. No vale mexicano, também se plantavam tomates, vagens, algodão, feijão, melão, pimenta, pimentão, baunilha, abacate, amendoim e tabaco. O cacau era por vezes utilizado como moeda. A batata é originária de zonas temperadas; a expansão do seu cultivo se deve aos incas. Os povos da Mesoamérica construíram canais para a irrigação, porém desconheciam o arado e a roda.
Para lembrar:
O milho, a batata, a vagem, o pimentão e a abóbora são alimentos originários da América.
O Império Asteca
Os astecas pagavam tributos à tribo tepaneca de Atzcapotzalco. Em 1440, a agressividade dessa tribo causou o surgimento de uma tríplice aliança entre as cidades de Tenochtitlán, Texcoco e Tlacopán, que derrotou os tepanecas e iniciou sua expansão territorial pela zona ocidental do vale do México. Sob o reinado de Montezuma I, o Velho, os astecas tornaram-se um povo temido e vitorioso, ampliando seus domínios em mais de 200 quilômetros. Axayácatl, o sucessor de Montezuma, em 1469, conquistou a cidade de Tlatetolco e o vale de Toluca. O Império ampliou seus limites ao máximo sob o reinado de Ahuízotl, que impôs sua soberania sobre Tehuantepec, Oaxaca e parte da Guatemala. Em 1519, sob o reinado de Montezuma II, houve o primeiro encontro com os conquistadores espanhóis.
Para lembrar:
Os astecas cobriam a cabeça, os braços e as pernas com plumas e peles de animais. Calçavam alpargatas. Tanto a pintura como os ornamentos corporais serviam para distinguir as classes sociais. Faziam furos nas orelhas, no nariz e no queixo, onde colocavam adornos de ouro ou de osso. Os homens usavam um pano amarrado na cintura e uma manta quadrada presa com um nó no ombro direito. As mulheres vestiam saia e uma ampla camisa com mangas. O povo asteca, embora não possuísse escrita alfabética, utilizava um sistema hieroglífico próximo ao sistema fonético.
Os nobres
A sociedade asteca era rigidamente dividida. O grupo social dos pipiltin (nobreza) era formada pela família real, sacerdotes, chefes de grupos guerreiros — como os Jaguares e as Águias — e chefes dos calpulli. Podiam participar também alguns plebeus (macehualtin) que tivessem realizado algum ato extraordinário. Tomar chocolate quente era um privilégio da nobreza. O resto da população era constituída de lavradores e artesãos. Havia, também, escravos (tlacotin).
A religião
A religião asteca era politeísta, embora tivesse poucos deuses. Os principais eram vinculados ao ciclo solar e à atividade agrícola. O deus mais venerado era Quetzalcóatl, a serpente emplumada, criador do homem, protetor da vida e da fertilidade. Os sacerdotes eram um poderoso grupo social, encarregado de orientar a educação dos nobres, fazer previsões e dirigir as cerimônias rituais. A religiosidade asteca incluía a prática de sacrifícios. O derramamento de sangue e a oferenda do coração de animais ou de seres humanos eram ritos imprescindíveis para satisfazer os deuses.

3) O IMPÉRIO INCA

O território inca
O Império Inca teve origem nas planícies andinas do Peru. No século XVI, estendeu-se até o antigo reino de Quito e grande parte da atual Bolívia e Chile. O Peru era habitado por tribos aimaras, quíchuas e yuncas. A partir do século XI, os incas, de língua quíchua, começaram a dominar as demais tribos e, no século XIII, construíram um grande império. A lenda atribui sua fundação a Manco Capa e a Mama-Ocilo, sua irmã e esposa. A dinastia inca impôs uma severa organização hierárquica. Sua capital ficava em Cuzco, no Peru.

As fortalezas incas
Os edifícios incas se caracterizam pela monumentalidade e sobriedade. Suas cidades eram verdadeiras fortalezas, construídas com grandes muralhas de pedra. Os incas eram mestres em cortar e unir grandes blocos de pedra; a cidade-fortaleza de Machu Picchu é o exemplo mais espetacular dessa arte. Machu Picchu foi descoberta em 1911, no topo de uma montanha de 2.400 m de altura, numa região inacessível da cordilheira dos Andes. Outras construções incas importantes ficam em Cuzco e Pisac. Cuzco, a capital do Império, tem uma rígida planificação urbana em forma quadriculada.
Para lembrar:
A severa administração hierarquizada dos incas também se revelou no bem-ordenado traçado das cidades e aldeias. Nas zonas adjacentes ao povoado, ficavam os campos, em terraços para o cultivo. Todas as aldeias comunicavam-se por uma excelente rede de caminhos. Os povoados eram dirigidos por um conselho de anciãos, que podiam ser nobres ou plebeus, e deviam obediência ao imperador.
Formas de vida
A organização social inca era muito hierarquizada. No topo estava o Inca (filho do Sol), que era o imperador; depois a alta aristocracia, à qual pertenciam os sacerdotes, burocratas e os curacas (cobradores de impostos, chefes locais, juízes e comandantes militares); camadas médias, artesãos e demais militares; e finalmente camponeses e escravos. Os camponeses eram recrutados para lutar no exército, realizar as tarefas da colheita ou trabalhar na construção das cidades, segundo a vontade do Inca. A família patriarcal era a base da sociedade, mas até os casamentos dependiam da autoridade máxima. O sistema penal era rígido e o sistema político extremamente despótico.
O trabalho agrícola
A terra era propriedade do Inca (imperador) e repartida entre seus súditos. As terras reservadas ao Inca e aos sacerdotes eram cultivadas pelos camponeses, que recebiam também terras suficientes para subsistir. A agricultura era a base da economia inca; a ela se dedicavam os habitantes plebeus das aldeias. Baseava-se no cultivo de um cereal, o milho, e um tubérculo, a batata. As técnicas agrícolas eram rudimentares, já que desconheciam o arado. Para semear utilizavam um bastão pontiagudo. Os campos eram irrigados por meio de um sistema formado por diques, canais e aquedutos. Utilizava-se como adubo o guano, esterco produzido pelas aves marinhas. Possuíam rebanhos imensos de lhamas e vicunhas, que lhes forneciam lã.
Cultura e religião
O idioma quíchua serviu de instrumento unificador do império inca. Como não tinham escrita, a cultura era transmitida oralmente. Com um conjunto de nós e barbantes coloridos, chamados quipós, os incas desenvolveram um engenhoso sistema de contabilidade. Na matemática, utilizavam o sistema numérico decimal. Os artesãos eram peritos no trabalho com o ouro. Mesmo sem conhecer o torno, alcançaram um bom domínio da cerâmica. Seus vasos tinham complicadas formas geométricas e de animais, ou uma combinação de ambas. A religião inca era uma mistura de culto à natureza (Sol, Terra, Lua, mar e montanhas) e crenças mágicas. Os maiores templos eram dedicados ao Sol (Inti). Realizavam sacrifícios de animais e de humanos.

OS POVOS INDíGENAS DA AMÉRICA PORTUGUESA

Quem eram os habitantes daquela parte da América, quando os portugueses nela desembarcaram? Eles formavam uma população heterogênea, estimada entre três e cinco milhões de pessoas e estavam divididos em inúmeros povos: tupinambás, potiguares, guaranis, etc. Falavam línguas diferentes e tinham costumes também muito diferentes entre si.
As primeiras notícias sobre os povos americanos chegaram à Europa no século XVI. Eram histórias de viajantes, náufragos e missionários que viveram em aldeias litorâneas, entre grupos tupis¹. Os relatos generalizavam os traços culturais e, durante muito tempo, os índios foram considerados todos iguais. Hoje sabemos que não formavam um grupo homogêneo; apesar disso, podemos destacar características comuns entre eles.
Sua organização social, por exemplo, era muito diferente da dos europeus. Não tinham um Estado organizado, nem um único chefe. Cada povo era formado por diversas tribos, que falavam a mesma língua, mantinham os mesmos costumes e estavam ligadas por fortes laços culturais. Nas aldeias em que viviam, as habitações eram geralmente organizadas em forma de círculo ou ferradura. Algumas tribos contavam com uma única habitação coletiva.
Os povos indígenas praticavam a coleta de frutas e raízes, a caça, a pesca e, em alguns casos, a agricultura. De modo geral, deslocavam-se quando os recursos naturais da região ficavam próximos de se esgotar. Os grupos que praticavam a agricultura viviam, em geral, em aldeamentos maiores. Mais sedentários, dedicavam-se também a atividades como fabricação de cerâmica e de tecidos. Os não-agricultores, por sua vez, subdividiam-se em grupos pequenos, para facilitar a aquisição de alimentos. Deslocando-se com maior freqüência, quase não produziam cerâmicas, já que os recipientes eram incômodos para o transporte.
A coivara era a forma característica de preparação do terreno para o plantio. Geralmente, a roça pertencia a toda a tribo, mas os instrumentos de trabalho costumavam ser de posse individual.
A divisão de trabalho estava baseada no sexo e na idade. Simplificadamente podemos afirmar que eram tarefas femininas cuidar da roça (do plantio à colheita), coletar, fabricar farinha, fiar e tecer, fazer serviços domésticos e cuidar das crianças. Os homens se responsabilizavam por derrubar a mata e preparar a terra, caçar e pescar, fabricar canoas e armas, construir casas, proteger a tribo e fazer a guerra. Os casamentos se davam, em geral, entre membros da mesma tribo e em algumas sociedades era permitida a poligamia.
O conhecimento indígena
Os povos indígenas habitavam regiões naturalmente hostis, caracterizadas por densas florestas. Tinham, entretanto, ótimo domínio e conhecimento da natureza. Muitos grupos classificavam as estrelas em constelações. Os tupinambás previam chuvas pelo aparecimento de certas estrelas e conheciam a correspondência entre marés e fases da lua.
Inúmeras plantas eram utilizadas para remédio e mesmo como veneno, que aplicado à água dos rios intoxicava os peixes, facilitando sua captura. Alguns desses venenos também eram utilizados na caça. O curare é o mais conhecido deles. Colocado na ponta da flecha, paralisa e mata por asfixia o animal ferido.
Os objetos fabricados destinavam-se, em geral, ao uso no dia-a-dia (potes, urnas, etc.) ou em ritos e lestas (pintura, enfeites plumários, etc.). Com variações de tribo para tribo, fabricavam-se esteiras, redes e cestos de todo tipo.
Os adornos de plumas eram usados em ocasiões especiais, já que sua confecção era trabalhosa. Artisticamente combinadas em belas variações de cores, as plumas serviam para fazer enfeites, como colares, brincos, braceletes, diademas, toucas, caudas e mantas.
Nas pinturas corporais eram utilizados principalmente o vermelho do urucum, o azul-escuro do jenipapo, o preto do pó de carvão e o branco do calcário. As pinturas, muitas vezes, estavam relacionadas com o papel social do individuo ou com o ritual a ser realizado. Os motivos, geralmente geométricos, eram utilizados também em peças de cerâmica e de cestaria.
Os conhecimentos indígenas foram fundamentais para a sobrevivência dos europeus na América. Principalmente nas primeiras décadas de colonização, e acabaram incorporados à cultura que se formou na colônia portuguesa.
Situação atual dos povos indígenas
A maioria dos povos indígenas encontra-se hoje em reservas, muitas delas impostas sem levar em conta os interesses ou os territórios de origem dos diferentes povos. Mas os piores problemas são enfrentados por aqueles que não têm suas terras demarcadas e estão mais expostos à ação de invasores, como madeireiros e garimpeiros. Mesmo os territórios demarcados correm perigo. Não seria exagero afirmar que esse é um dos principais problemas enfrentados pelos povos indígenas na atualidade.
A partir da constatação de que seus direitos só serão respeitados se eles próprios passarem a defendê-los, os indígenas do Brasil começaram a se organizar em anos recentes. O acesso de muitos deles à instrução formal da sociedade dominada pelo homem branco facilitou o processo de organização, que culminou em 1980 com a fundação da União das Nações Indígenas (UNI), cujo objetivo consiste em articular as cerca de duzentas nações que habitam o país. As lideranças daí surgidas conseguiram incorporar à Constituição de 1988 muitos de seus direitos.

JOSÉ JOBSON DE A. ARRUDA E NELSON PILETTI. TODA A HISTÓRIA -
HISTÓRIA GERAL E HISTÓRIA DO BRASIL. EDITORA ÁTICA, SÃO PAULO, 2002. P. 188 E 189.

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